Você lembra a roupa que usava quando foi assediada? Provavelmente foi um daqueles shorts
curtinhos. Devia estar rebolando, insinuando-se, oferecendo-se. Bem feito! Eles
não sabem se controlar, você é que tem que se dar respeito. Se você é mulher, muito provavelmente
já ouviu esse pensamento, ainda que não direcionado a sua pessoa.
Num dia desses, de muito calor e ruas vazias, eu precisei sair sozinha. Influenciada
por aquele pensar, vesti uma calça por mais quente que estivesse e saí pela
porta acreditando que o comprimento da minha roupa me protegeria do assédio.
Ledo engano. No caminho para o ponto de
ônibus, um ser importuno me apareceu. Quis xingar a ele, mas fiquei com
medo de apanhar. Apenas rezei para que o
ônibus logo chegasse e segui receosa.
Apesar de todas as discussões
feministas que participei anteriormente, foi durante aquela viagem de ônibus
que refleti e confirmei que as coisas andam muito erradas e que não, o assédio não diminui conforme a roupa
aumenta.
O que nos faz acreditar que sim é um
discurso que destrói nossa autoestima
e reforça a suposta vergonha que devemos
ter dos nossos corpos femininos, por mais progressistas que sejamos. Um discurso que
nos é mostrado como forma de nos protegermos dos assédios, mas na verdade contribui para a persistência deles. Que nos nega assistência nas delegacias e se
não nos tolhe, corta as asas de outras
mulheres, alimentado assim a cultura
do estupro.
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Trecho veiculado na página do
Facebook “Empodere Duas Mulheres”.
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Roupas nunca foram e não serão a razão para o assédio cotidiano. Esse argumento é apenas pretexto para que os verdadeiros culpados vistam-sem em pele de carneiro e a violência se repita diariamente. O real motivo para o assédio não diminuir nunca é que enquanto homens são vistos como impulsivos, incapazes
de controlar seus instintos e tudo bem, nós
mulheres crescemos na encruzilhada Santa X Puta, tendo que provar o quão valorosas somos.
Mudar este inconsciente coletivo requer uma longa caminhada, e ela começa quando nós trabalhamos no individual, entrando num processo de desconstrução. Estou passando por ele e é difícil. Às vezes quero recorrer a roupas maiores para me esconder. Mas é necessário e por isso agora tento colocar minhas vontades sobre meus medos.
Você lembra a roupa que usava quando foi assediada? Faça o teste. Quanto mais percebermos e lutarmos contra as injustiças, mais confortáveis nos sentiremos para fazer as escolhas por nós
mesmas. Mais confiantes estaremos e assim, empoderaremos outras mulheres.
Apropriar-se dos nossos corpos é um ato de rebeldia e poder, mas acima de tudo nosso direito.


É difícil comentar sobre esse assunto, pois eu tenho muita coisa na cabeça quando eu falo dele. Eu sou feminista, e eu fico muito irritada quando percebo que isso esta presente na realidade de todas as mulheres, e é todo dia! Fico irritada e amedrontada quando vejo que essa mulher que sofreu o assédio é da minha cidade! Fico com raiva quando percebo que existem pessoas que julgam as mulheres pela musica que escutam e pela roupa que usam. Ninguém merece ser assediada, nem pelo seu modo de pensar, de agir ou de se vestir, ou merece? Porque do mesmo jeito que um gay não merece ser agredido, ou um negro não merece ter que se deparar com racistas na rua ofendendo ele, uma mulher não merece ser julgada pelo seu gosto ou estuprada na rua pelo? Não, não existe um motivo. Porque ter uma ppk e um corpo bonito não é motivo.
ResponderExcluirDesculpe, não consigo continuar nesse assunto, começo a querer fazer mow texto. Otimo debate <3
Beijos, www.valentinices.com
Certíssima, Valentina! Ninguém merece ser ofendido pela sua identidade e nada mesmo justifica esse tipo de violência. Muito obrigada pelo seu comentário! Um abraço! Volte sempre! ;)
ExcluirÓtimo texto!
ResponderExcluirIsso sempre aconteceu comigo, antes quando eu tinha uns 13 era bem menor o assédio, hoje em dia com 15 anos, vou ouvido cada coisa que me ofende com muitaaa frenquência, eu não uso roupa curta e nem se eu usasse é desculpa pra me tratarem assim. E eu não vou mentir, na mesma hora que escuto viro pra trás e xingo ou digo algo grossamente, eles acham que é elogio,"what?", eu não preciso de "elogios", me olho no espelho todos os dias.
Amei o post, já estou seguindo, é de Salvador? que belezaaa <3
Também tenho um blog, adoraria ver você por lá.
Beijão!
http://evesouzaa.blogspot.com.br/
Oi, Evelyn! Tá mesmo de parabéns de levantar sua voz contra essas injustiças. E amei esse vraaa: eu não preciso de "elogios", me olho no espelho todos os dias. Obrigada pelo seu comentário! E já já tô morando em Salvador sim. Um abraço! Volte sempre! ;)
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